Com a sanção da chamada “Lei do combustível do futuro”, que aumenta os percentuais de mistura de etanol na gasolina e cria programas de incentivo à produção e ao uso de combustíveis sustentáveis, a produção de soja terá que dobrar em Mato Grosso para atender a demanda necessária. Além disso, o mercado do etanol terá grande expansão e o de biometano, que ainda está em criação no Estado, começará a ganhar corpo. A análise é do vice-presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Gustavo Oliveira, que ocupa a presidência do Movimento Mato Grosso Competitivo (MMTC).

A Lei 14.993, de 2024, sancionada no mês passado pelo presidente Lula (PT) cria programas de incentivo à produção e ao uso de combustíveis sustentáveis, como o diesel verde e o biometano, conhecidos como combustíveis do futuro. O novo percentual de mistura de etanol à gasolina será de 27%, com variação entre 22% e 35%. Atualmente, a mistura varia entre 18% a 27,5% de etanol. Já o biodiesel poderá ser acrescentado ao diesel derivado de petróleo em um ponto percentual de mistura anualmente a partir de março de 2025 até atingir 20% em março de 2030. Desde março deste ano, o biodiesel é misturado ao diesel de origem fóssil no percentual de 14%.  

“Os especialistas estão apontando que nós vamos precisar dobrar a nossa capacidade de esmagamento de soja para produzir biodiesel na quantidade necessária para atender a elevação do percentual de mistura de biodiesel no diesel brasileiro. Hoje nós esmagamos 14 milhões de toneladas de soja por ano e tem que passar para 28 milhões de toneladas para que haja óleo de soja suficiente para fabricar biodiesel na escala que o programa vai atingir em 2030.

Já no mercado do etanol, além do aumento da mistura de etanol na gasolina, Gustavo ressalta que ainda terá outro efeito, que é o incentivo maior para que as pessoas consumam o etanol hidratado nos carros flex. “Cada vez mais a gente vai ter carros flex, a tendência é que até os carros importados tenham essa tecnologia flex e que, com isso, a gente tenha mais mercado para o etanol, tanto o anidro, que é misturado na gasolina, quanto o etanol hidratado, que é esse que vai para o posto para abastecer diretamente os carros”, esclarece.

O vice-presidente avalia que todo esse cenário vai potencializar o setor no Estado. “Se Mato Grosso não tem posto de petróleo, nós temos nos campos a nossa fonte de energia. Vamos chamar de posto de petróleo renovável, ou seja, fonte de energia renovável, soja e etanol que pode ser feiro a partir da cana ou do milho”, pontua.

Biometano e SAF

Além do etanol e do biodiesel, outro combustível verde que terá mais espaço com a nova legislação será o biometano. Está em construção em Mato Grosso, pela UISA, a primeira a fábrica de biogás e biometano, que serão usados como fonte de energia elétrica e como combustível para veículos no mercado interno e, posteriormente, para o mercado externo. O biogás será produzido a partir da vinhaça e da torta de filtro da cana-de-açúcar. A fábrica deve entrar em operação em 2027, no município de Nova Olímpia (a 203 km de Cuiabá).  O investimento inicial é de R$ 300 milhões.

“A Uisa está investindo para fazer o biometano, que é um substituto muito bom para o gás natural. O gás natural que vem da Bolívia, a gente diz natural, mas na realidade não é um gás verde. Ele é um gás a partir de petróleo. Ou seja, é desenterrado carbono e jogado na atmosfera. O biometano, não. Ele é produzido a partir de uma estratégia de captura de carbono que ia para a atmosfera. Ele é muito mais limpo do que o gás natural, que hoje, além de ser importado da Bolívia, é de origem fóssil”, detalha.

Em todo esse cenário, o etanol e o biodiesel ainda poderão ser utilizados para a produção de combustível de aviação sustentável, ou SAF, na sigla em inglês.

“A aviação, é um dos maiores emissores de gases do efeito estufa no mundo, principalmente o dióxido de carbono. Com a legislação, o SAF vai ser desenvolvido com tecnologia nacional. Isso abre um grande espaço aí para o nosso etanol e o nosso biodiesel”, afirma.

Lei do combustível do futuro

Além dos aumentos no percentual de biodiesel e etanol no combustível, como citado, a lei também cria o Programa Nacional do Diesel Verde (PNDV), que fixará, a cada ano, a quantidade mínima de diesel verde a ser adicionado ao diesel vendido ao consumidor final. O diesel verde costuma ser confundido com o biodiesel, que também é um combustível limpo, mas com propriedades distintas.  O diesel verde ainda não é produzido no Brasil, mas a primeira biorrefinaria está sendo construída em Manaus e tem previsão para início de operação em 2025.

O texto cria ainda o Programa Nacional de Descarbonização do Produtor e Importador de Gás Natural e de Incentivo ao Biometano, para incentivar a pesquisa, a produção, a comercialização e o uso do biometano e do biogás na matriz energética brasileira. Serão definidas metas anuais para redução da emissão de gases do efeito estufa pelo setor de gás natural por meio do uso do biometano. A meta entrará em vigor em janeiro de 2026, com valor inicial de 1% e não poderá ultrapassar 10%.

Para o setor da aviação, a legislação cria o Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação (Probioqav), que incentiva a pesquisa, a produção e a adição no querosene das aeronaves do chamado combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês). A partir de 2027, as companhias aéreas deverão diminuir a emissão de gases do efeito estufa, começando com 1% ao ano e aumentando um ponto percentual anualmente até 2037, quando deverá atingir pelo menos 10%.

FONTE: RD News

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